sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cotidiano: hospital casa

Já faz dois meses que eu e Fabiano temos nossa vida de certo modo ‘dividida’. Não é exatamente essa palavra que gostaria de usar, mas ainda não achei outra que desse um sentido mais adequado ao que temos vivido. É que, em verdade dividimos nosso cotidiano entre nossa casa e trabalho (no caso do Fabiano) e o hospital onde Joãozinho passou a morar em 22 de fevereiro. Não gosto da palavra ‘dividida’ porque dá a impressão de que vivemos vidas separadas, distintas, o que não é o caso. Não há como estar em casa com meus outros dois filhos sem pensar no João; assim como não dá para estar todos os dias com João sem pensar no restante da família e de coisas que gostaria ou preciso fazer.
Pude ter longas conversas com a psicóloga do hospital sobre a sensação de dividir os mundos e sobre a angustia que isso às vezes traz. Quando se trata de uma situação provisória de estar no hospital, mesmo que por um período mais alongado, você vai lidando com esse tempo de um modo diferente: pode colocar suas energias de um modo mais intenso, pois é por um período. Mas quando não se tem previsão de alta? Quando você precisa incorporar ao seu cotidiano o hospital por tempo indeterminado? É possível unir esses mundos? Como?
Como viver a dedicação necessária ao pequeno João e, ao mesmo tempo seguir vivendo suficientemente bem? Como não esquecer-me de quem eu sou e de que outros também precisam de mim?
Certamente, essas perguntas não tem uma única resposta. Em muitos momentos os sentimentos se confundem, às vezes o desanimo bate a porta do coração. E o desanimo vai mimando/corroendo os sentidos que a duras penas fomos construindo, vai querendo nos convencer de que somos fracos demais... temos permanecido vigilantes ás tristezas e desânimos um do outro, buscado consolar, buscado consolo em Deus e com amigos, conversado sobre os sentimentos e sensações.
E aí, levantamos para um novo dia que começa. Olhamos a agenda da semana. Levamos as crianças para dormir cantando ‘Mãezinha do céu’. Vamos à festinha de aniversário. Vamos ao churrasco de domingo com os avós. Aconchegamos o João em seus momentos de dor e desconforto. Rimos com ele e a equipe de enfermagem. Jogo conversa fora com as fisioterapeutas. Temos conversas difíceis com os médicos. Temos conversas agradáveis com os mesmos médicos. Choro com Jesus em minha oração pessoal. Peço a graça da fortaleza para o Fabiano, ele me abraça e me pede mais um pouco de coragem. Decidimos continuar a viver felizes tudo que o Bom Deus nos reservou pra essa vida e que com liberdade aceitamos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Benção!

No início dessa Semana Santa, nos prelúdios da Páscoa, comemoramos o 5º mêsversário do João!
É inevitável fazermos uma reflexão da vinda do João e de todo o sentido pascal (Páscoa que é festa central de nossa fé católica). Quantas ressureições João trouxe para nossa vida? Quantos recomeços? Quantas transformações?

Ah sim, na Páscoa lembramos dos chocolates, doces e coelhos. Existem alguns que ainda lembram do Cristo e sua paixão. Com certeza João também nos lembra do Cristo crucificado.
A partir dessa afirmação você pode imaginar que digo isso por causa dos sofrimentos. Bom, não posso negar que João sofra, mas a afirmação vem em relação ao Cristo que é Vitorioso diante da cruz! É Jesus quem nos ensina, e primeiro faz, transformando maldição em benção, sofrimento em amor...

Parabéns João, Feliz Páscoa filho!

terça-feira, 12 de abril de 2011

CONSELHOS AOS PAIS

Sem falsa modéstia, essa grande experiência com a vida, que a vida do João nos proporcionou, gerou muitos aprendizados (e continua a gerar frutos) em nós. Alguns destes posso chamar aqui de ‘conselhos aos pais’... é que pretensiosamente pensei em dicas, aprendizados e reflexões que fossem importantes para pais em situações semelhantes (pais de crianças sindrômicas, pais de crianças com diagnósticos difíceis, pais que tem filhos hospitalizados e etc.). Bom, aí vão:
1.       Primeira grande dica, se você recebeu noticia de algum diagnóstico para seu filho(a), principalmente se ele ainda está por nascer: não procure nada sobre a doença do google, e muito menos no youtube não vai te fazer bem; faça busca em blogs pois eles contam histórias de vida e de amor de pessoas concretas.
2.       O seu papel de pai/mãe é amar. E amor envolve zelo e cuidado. Mas o seu cuidado e zelo não podem impedir que outros também amem e até mesmo cuidem (se assim tiverem disposição) de seu filho(a).
3.       Confie nos médicos e na medicina, mas não cegamente. Seja crítico, mas receptivo e aprenda também a escutá-los. Não carregue dúvidas sobre tratamento e diagnóstico, faça as perguntas (por mais bobas que elas pareçam). Mas tenha sempre a certeza de que a ciência não é a verdade absoluta.
4.       Resgate a sua fé. Ela dará sentido ao que estás vivendo.
5.       Não se feche em seu sofrer. Olhe a volta, outros sofrem junto contigo, há mais pessoas sofrendo no mundo. O sofrimento faz parte da vida. Não sofra sozinho.
6.       Pai e mãe, vocês precisam conversar muito sobre o que está acontecendo, sobre o que estão sentindo. Não espero do outro reações, cada um sofre do seu próprio jeito. E não se esqueçam de que vocês continuam sendo um casal, cuidem um do outro.
7.       Viva o que cada dia te reserva, em cada dia o seu cuidado e preocupação. Sofra as dores de um dia ruim para poder sorrir com as pequenas conquistas do outro. Não tenha vergonha do que sente.
8.       E, para finalizar: procure ajuda sempre que for preciso. E aceite as mãos que se estenderam.
Abraços, Geise.

terça-feira, 5 de abril de 2011

“o que é ser avó do João Batista?”

Pedi para minha mãe escrever um texto para postar no blog do Joãozinho, falando sobre a experiência de ser avó deste menino. Tive essa vontade porque muita gente leu o testemunho do vovô (postagem anterior) e também a mensagem dos dindos... penso que será importante para outras avós. E também partilhamos com vocês a experiência de quanta gente tem amado o lutador. Você vai perceber que a vó vera o chama sempre de João Batista, pois a inspiração de seu nome vem daí (na postagem A Promessa, vais entender), e Batista é como se fosse seu segundo nome de batismo.
Bom, segue o texto da vó coruja, abraço, Geise.



         Para dizer “o que é ser avó do João Batista?”,  tenho que contar desde o inicio.

         O anuncio da vinda do JOÃO BATISTA, me alegrou desde o primeiro instante, porque filhos são bênçãos de Deus, e netos são bênçãos em dose dupla. E também que como avó eu teria mais uma chance ( a terceira) de reeditar o meu amor.
          As noticias seguintes misturavam alegria com preocupação, as vezes agonia e dor no peito, que só dividi com 4 pessoas: Luiz, Juliana, tia Roni e tia Leoreni que foram meus ombros fortes durante a espera. Procurava não falar toda hora sobre o assunto, com a Geise e o Fabiano, para não preocupá-los ainda mais, e também porque sentia que não queriam me dizer tudo. As noites começaram a ficar longas demais.... foi difícil não ter a presença constante do Luiz em casa, não poder dividir com mais pessoas nem na família nem no trabalho.
           A esperança de que fosse um erro médico, um exame errado.... sei lá, permeavam meus pensamentos.
           No dia em que o JOÃO BATISTA nasceu, e as primeiras noticias da batalha pela vida que ele, o pai e a mãe estavam travando, me deixaram apavorada, impotente e inútil.  Sentia, ao mesmo tempo, confiança em Deus, porque Ele havia providenciado muitas coisas para essa hora. Dentre tantas providencias Deus preparou a Geise ( minha amada filha, guerreira, iluminada pelo Espírito Santo) para ser firme na fé, ter coragem para enfrentar toda a gravidez (acho que deva ter se tornado longa) sem desespero, e preparou o Fabiano (meu tão querido genro) para a hora do nascimento, dando-lhe coragem e a força do Espírito Santo para falar e interferir nas decisões médicas, a favor de ajudar o JOÃO BATISTA na sua batalha pela vida.
            Durante as horas que se sucederam ao nascimento, me coloquei no lugar deles várias vezes e me desesperei, então agradeci a Deus ter dado ao JOÃO BATISTA estes pais que ele tem.
            Se passaram os dias, e eu só pensava em poder conhecer meu querido neto. Não tenho lembrança de ter ganhado um presente tão maravilhoso, em outros natais de minha vida:  conhecer o JOÃO BATISTA meu adorável guerreiro. E neste dia foi muita alegria, o Natal foi vivenciar Jesus menino na figura do meu neto. Olhar aquele menino tão pequeno, mas que junto com seus pais ficava forte: Esses três são parada dura.
             Quando lembro desta visita e vejo a imagem dos três pelo vidro, vejo a família de nazaré: a Geise a Maria dando seu sim: seja feita a vontade do Senhor; o Fabiano o José, confiando no Senhor e zelando pelo filho: e o JOÃO BATISTA o próprio Menino Jesus. Repleto de Luz, de amor. Como diz a canção: rosto divino do homem, rosto humano de Deus.

            O que é ser avó do JOÃO BATISTA?
   
    Ser avó do JOÃO BATISTA  é o mesmo que ser avó do PEDRO e da ANA LUIZA, porque colocá-lo em meu colo, cheirar, beijar, afagar, ter vontade de apertar contra o peito, não querer vê-lo chorar, admirar,  e tudo o mais, são  as mesmas sensações, zelos, paixões e amores, que tive e tenho pelos três. È claro que ele é mais do que especial porque tem coisas que não posso fazer com ele, mas posso substituir por outras que não me impedirão de materializar e verbalizar meu amor por ele.  Pode até ser que ele não me entenda, não me reconheça, pelas suas limitações, mas eu sei quem ele é e o que ele representa na minha vida  e isto basta para eu amá-lo.

        Quando chego no hospital digo: “JOÃO, acorda! A vó quer conversar contigo.” E se ele abrir a frestinha do olho direito, já ganhei o dia, e aí é só papo, nosso diálogo corre frouxo até a próxima soneca.  Se ele chorar me dói o peito. Quando  digo a ele: “a vovó te ama” , e os olhinhos ( que não vejo) se movimentarem dizem: “eu também”.  Acaricio aquelas madeixas ruivas, canto canções de ninar, e a canção que a bisa Julia cantava para nós quando crianças: “são joão dararão tem uma gaita raraita......”  Ser avó dele é isso: amar, amar e amar e não precisar ensinar nada a ele, porque ele é que está me ensinando a viver.

JOÃO BATISTA: ser tua avó é  o melhor presente que Deus me dá todos os dias e explicar   o que é ser avó é um pouco difícil, o bom mesmo e ser avó sem precisar conceituar esse sentimento, que só quem vive, sabe o que é.