Jantávamos na sexta-feira a noite. Todos à mesa, rizadas, conversas, histórias do dia.
Papai-Fabiano anuncia: "amanhã vamos ao cemitério, visitar o túmulo do João".
Ressoa pela casa: EEEEEEBBBBAAAAAA!! Ana Luíza e Pedro batem palmas e começam a fazer várias perguntas animados: posso escolher uma flor?
E o sábado chegou, com seu calor de primavera.
Passamos na floricultura. Pedro escolheu uma violeta e Ana Luíza um pequeno cactus.
Passando o portão gradeado, Pedro dispara na frente. Diz saber onde fica, mas por um momento perde-se nos caminhos tortuosos entre fotinhos, nomezinhos e lages.
Chegamos. Começo a limpeza e logo os dois disputam a possibilidade de me auxiliar. Ganham tarefas coordenadas pelo pai. Coloca sabão, esfrega, joga água, seca... tudo de novo.
Terminada a tarefa, nos acocamos. Rezamos juntos, cada um falou um pouco. Pedroca logo marejou os olhos de lágrimas. Tchau João, Ana joga-lhe beijos (na foto e no ar).
Desculpe-me se este texto (e quem sabe o blog mesmo) lhe pareça mórbido. A intenção não é exaltar a morte, mas refletir a cerca de sua natureza. Viver e morrer são realidades tão próximas.
Mas as crianças são concretas e sinceras. É assim que nos exigem passar pelo luto.
Assumimos o risco de falar no irmão, de leva-los ao cemitério, de rezar, de recontar a história para eles.
Estamos dispostos a ouvir o choro e a saudade, as perguntas duras e difíceis de responder... para dar-lhes a chance de também construir algum significado.
Eu tenho Fabiano, ele a mim.
Nós temos a Deus.
E a Aninha segue com suas explicações mágicas e incríveis.