Dizem que é na hora do pranto, da lágrima, que conhecemos
nossos verdadeiros amigos. Foi na hora do sofrimento que conhecemos
verdadeiramente nossa comunidade. Em algum momento eu precisaria escrever sobre eles aqui no blog.
Foi a Comunidade Filhos da Cruz o primeiro lugar que corremos, naquele
dia em que se confirmou o terrível diagnóstico para nosso pequeno bebê (com
apenas alguns poucos meses de gestação). Depois de ter ouvido da médica “teu
nenê têm uma síndrome incompatível com a vida” além das possíveis dificuldades
e sofrimentos que o nenê teria a partir de seu problema genético (trissomia do
cromossoma 13 ou Síndrome de Patau); um tanto atordoados com tudo isso, entre
lágrimas e abraços fomos acolhidos pelos irmãos da pertença Vida. Que depois de
escutarem nossos relatos e angústias, nos levaram ao oratório, para a primeira
de muitas orações, suplicas e clamores pelo pequeno João. Desta primeira
oração, levantaram-se um pai e uma mãe cheios de esperança e confiança no
Senhor Jesus; dispostos a lutar pela vida de seus filhos e fazer a vontade de Deus.
Seguiram-se meses de intensa oração. Fomos partilhando as
dores desta gestação com todos os irmãos de comunidade (os de Vida e de
Aliança). Era dessa partilha e da oração de
cada um deles que nascia nossa coragem. O tempo foi passando e os prognósticos
médicos cada vez mais pessimistas: ainda em útero pode-se constatar que
Joãozinho tinha microcefalia e tetralogia de fallot (graves dificuldades
cardíacas), para a ciência ele não conseguiria nascer e, se chegasse a isso,
sobreviveria por apenas algumas horas. Cada notícia ruim era transformada em
Ave-Marias, em novenas e em carinho.
Muitas vezes recorremos à esses irmãos de caminhada porque
não queríamos fazer sofrer ainda mais nossos pais e irmãos. Nossa família foi
importante demais em todo o processo de luta com o João. A verdade é que, nossa
família cresceu muito em amor, partilha e carinho... Mas também em tamanho, cresceu
porque eu e Fabiano a estendemos: os irmãos de comunidade se transformaram em
nossa família também.
Nesse período descobrimos a graça que nosso
carisma comporta de amar intensamente, amar como os mártires (dando de si
mesmo, morrendo para si mesmo) e de amar o sofrimento, a cruz. Como nos diz
Santo Agostinho “Quem ama não sofre. Se sofre, ama até o sofrimento”.
O Pai do céu ouviu o clamor dos Filhos da Cruz, pois João
nasceu no dia 18 de novembro de 2010. E sua vida foi cheia de prodígios e
sinais do amor Deus. Depois de duas cirurgias, duas internações (uma de 49 dias
e outra de mais de setes meses), de dias ruins e dias serenos, de convulsões, apneias,
apitos de aparelhos, tantos remédios, médicos, enfermeiras, sondas,
antibióticos, diarreias... Depois de ganhar muitos colos, de ganhar muitos
presentes, de reações inesperadas, de 15 minutos respirando sem auxílio
mecânico algum, de segurar nosso dedo indicador tantas vezes, de reagir a
nossos afagos, de muitos chamegos de avós, da visita dos maninhos tantas
vezes... Completou 10 meses de vida e faleceu no dia 26 de setembro de 2011.
Nossa família estendida (avós, irmãos, cunhados e etc) amou
muito João e o acolheu pois ele nasceu em nosso meio. Mas muitos amaram o João
gratuitamente.
Em todos esses momentos a comunidade nos foi um oásis. Cada
irmão de comunidade foi para nós a mão do próprio Deus a nos erguer. O amor com
que cada um deles amou o João nos comove até hoje, ele tornou-se também um
Filho da Cruz.
ps.: esse testemunho está também no site e informativo da comunidade Filhos da Cruz. Mais informações www.filhosdacruz.com.br
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