terça-feira, 16 de outubro de 2012

Êba!

Jantávamos na sexta-feira a noite. Todos à mesa, rizadas, conversas, histórias do dia.
Papai-Fabiano anuncia: "amanhã vamos ao cemitério, visitar o túmulo do João".
Ressoa pela casa: EEEEEEBBBBAAAAAA!! Ana Luíza e Pedro batem palmas e começam a fazer várias perguntas animados: posso escolher uma flor?

Naquela cena, um tanto inacreditável, eu me perguntei.... será que exageramos em algo? será que a idéia (um tanto psicológica) de elaborar o luto foi muito extremada? será que a catequese (apoio da fé) para o entendimento da morte foi demasiada para crianças?


E o sábado chegou, com seu calor de primavera.
Passamos na floricultura. Pedro escolheu uma violeta e Ana Luíza um pequeno cactus.
Passando o portão gradeado, Pedro dispara na frente. Diz saber onde fica, mas por um momento perde-se nos caminhos tortuosos entre fotinhos, nomezinhos e lages.
Chegamos. Começo a limpeza e logo os dois disputam a possibilidade de me auxiliar. Ganham tarefas coordenadas pelo pai. Coloca sabão, esfrega, joga água, seca... tudo de novo.
Terminada a tarefa, nos acocamos. Rezamos juntos, cada um falou um pouco. Pedroca logo marejou os olhos de lágrimas. Tchau João, Ana joga-lhe beijos (na foto e no ar).

Desculpe-me se este texto (e quem sabe o blog mesmo) lhe pareça mórbido. A intenção não é exaltar a morte, mas refletir a cerca de sua natureza. Viver e morrer são realidades tão próximas.

Concluí que não houve exageros em nossas homenagens. Naturalizar a morte (inerente à vida) não é naturalizar a dor de passar por ela. Vivemos a dor da morte. Mas essa dor não paraliza nossa vida. Tateamos maneiras de passar por isso junto de nossos filhos, pois eles não foram (nem poderiam ser) alheios a história do irmão. Com o desejo de que passassem por esta experiência da melhor forma possível. Buscamos formas de junto deles elaborar a morte do João.


Mas as crianças são concretas e sinceras. É assim que nos exigem passar pelo luto.
Assumimos o risco de falar no irmão, de leva-los ao cemitério, de rezar, de recontar a história para eles.
Estamos dispostos a ouvir o choro e a saudade, as perguntas duras e difíceis de responder... para dar-lhes a chance de também construir algum significado.

Pedro está fazendo terapia.
Eu tenho Fabiano, ele a mim. 
Nós temos a Deus. 
E a Aninha segue com suas explicações mágicas e incríveis.

Um comentário:

venildes disse...

amiga como mim emocionei lendo isto. sei muito bem como e minha filha ja com 14 anos adora ir ao cemitério e leva flores e a cada visita uma flor deferente, ja levamos tds e falar da ALICE em casa e normal apesar dela ja ser grande e entender melhor,. e ja vai fazer 2 anos ja estou mim preparando e como reviver td tudo volta e muito forte,ador ler suas publicações, pois tenho preguiça de escrever. um forte abraço. venildes.